segunda-feira, setembro 11, 2006

Poema para a Negra


Deixa que os outros cantem o teu corpo
que dizem feiticeiro e sedutor,
e, na volúpia vã do pitoresco,
entoem madrigais à tua dor.

Deixa que os outros cantem teus requebros
nos passos de massemba e quilapanga,
e teus olhos onde há noites de luar,
e teus beiços que teem sabor de manga.

Deixa que os outros cantem os teus usos
como aspectos formais da tua graça,
nessa conquista facil do exotismo
que dizem descobrir na nossa raça.

Deixa que os outros cantem o teu corpo,
na captação atónita do viço
e fiquem sempre, toda a vida, a olhar
um muro de mistério e de feitiço...

Deixa que os outros cantem o teu corpo
- que eu canto do mais fundo do teu ser,
ó minha amada, eu canto a própria África,
que se fez carne e alma em ti, mulher!

Geraldo Bessa Victor (Angola)

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Descobri este blog, através do Fórum de Cabo Verde. E assim que entro, sou recebida com um dos meus poemas favoritos...

É doce chegar assim num lugar, e já ir sentindo que estamos em casa...

:-)

11:09 da manhã  

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