terça-feira, setembro 04, 2007

A utopia dos olhos escancarados


Se num momento de loucura
acaso arriscares acima do tédio
e afoito sozinho dobrares
a agreste solidão da esquina dos dias,
poderás então entrever
por entre as brumas do tempo
a imensa multidão e o verde prazer
das tuas mais urgentes utopias.

Se depois com ardor escreveres
- ridícula como o poeta a dizia -
uma simples carta de amor
cuja verdade ofereça fogosa o seu pudor
sinceros significados tão prementes
que a ouro fiquem bordados
no seio nu das palavras inexistentes,
imune farás tombar do muro os pecados
com que este presente impune
procura sarcástico esconder-nos o futuro.

Se porem impossível te for
a sangria das palavras a sério
e ao cansaço sem outra saída
com fúria não conseguires opor
a beleza dum punho bem apertado,
arrepia caminho e não ouses.
Nunca ouses monstro malfadado
dobrar a esquina deste tempo
de cobardias prenhe e silêncios cheio.

Porque só o amor mata a hipocrisia
e reconhece os homens iguais
porque para além deste dia
só de olhos escancarados se sonha a utopia.
Adriamo Alcantara

Solidão...


Sozinha no escuro encostada ao âmbito da noite vaga confundo a dolência com o silêncio do consórcio. É como pintar uma tela e esperar que o pincel se solte sozinho e voe até às tintas. Estarei sozinha?! Será esta a profunda solidão?!
A súplica da tua voz passa-me ao lado. Fico surda perante um gesto de mimo disfarçado. O teu acto individual pode ser feito a dois. Podes-me escutar. Pára o tempo e separa a tristeza do nosso Eu. Compreende o meu sentimento.